Tamar Rabelo de Castro
“Confunde-se estudar língua com estudar gramática. Confunde-se expressão escrita com “fazer redação” (para o professor corrigir, e não para o aluno criar livremente, crescendo em linguagem à medida em que e na medida em que cria).” (LUFT, 2006, p.21)
A constatação de que o baixo rendimento está diretamente ligado à habilidade de leitura, escrita e interpretação dos alunos deve levar a questionamentos da prática do ensino de língua materna. Afinal, a grade curricular está repleta de horas aula para o ensino de língua materna desde o primeiro dia que a criança ingressa no universo escolar.
Se levarmos em conta apenas os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, o aluno faz um curso de aproximadamente 2280h/a (duas mil duzentas e oitenta horas aulas) de Língua Portuguesa e não consegue desenvolver um texto com coesão e coerência.
Fenômeno que deve ser levado em conta na hora do demonstrativo dos rendimentos. É de notório conhecimento que a estrutura da escola está baseada na capacidade de leitura e produção de conhecimentos acumulados. Conhecimentos esses que passam necessariamente pela produção de textos escritos em língua padrão.
Produção que não é trabalhada em sala de aula como deveria ser. A preocupação com o ensino das normas gramaticais, que regem a língua padrão, leva a um ensino da língua baseado na nomenclatura e no uso descontextualizado dos elementos discursivos. Daí a dificuldade em perceber a língua como um todo, repleto de ligações semânticas e sintáticas.
Muito é ensinado e pouquíssimo desse conteúdo é utilizado de forma consciente na construção do discurso escrito. Urge apresentar aos alunos que a língua é dinâmica e possui uma interligação de todos os elementos estudados na escola.Partindo do pressuposto que muito é ensinado, o baixo rendimento seria uma questão a ser superada facilmente. No entanto, as estatísticas demonstram que a cada dia mais alunos saem do Ensino Fundamental e Médio sem o domínio mínimo necessário para utilizarem a linguagem escrita de forma eficiente.
Ao analisar a crônica Gigolô das Palavras no livro Língua & Liberdade, Pedro Celso Luft (2006) faz uma exposição da priorização do ensino de gramática sem uma relação íntima com a produção das idéias em discursos constantes, até porque esse ensino equivocado gera nos jovens o receio de utilizar a linguagem escrita nas suas comunicações.
Por que os professores em geral não capcitam melhor os alunos para a comunicação oral e escrita? Porque, em vez de fazê-los trabalhar INTENSAMENTE com a sua gramática interior, fazendo frases, compondo textos, lendo e escrevendo, pretentem impor-lhes Gramática, teorias e regras. Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo. (LUFT, 2006, p. 21)
Por que os professores em geral não capcitam melhor os alunos para a comunicação oral e escrita? Porque, em vez de fazê-los trabalhar INTENSAMENTE com a sua gramática interior, fazendo frases, compondo textos, lendo e escrevendo, pretentem impor-lhes Gramática, teorias e regras. Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo. (LUFT, 2006, p. 21)
Nesta obra ele afirma que escrever bem tem muito mais a ver com uma gramática internalizada do que com uma gramática artificial, cheia de exceções e regras que contemplam arcaísmo e purismos que nada tem a ver com a gramática utilizada pelo brasileiro. Daí, percebemos que muitos usos seriam normativamente errôneos, mas são utilizados com freqüência na língua de forma que já estão incorporados na gramática interna dos falantes.
"Se a gente fala (ou escreve) para comunicar algo, o que conta é fazê-lo da forma mais clara possível. Às vezes precisa sacrificar uma correão preconceituosa em benefício da clareza. Isso explica por que o brasileira fala vi ele e lhe vi em lugar do vi-o(cp. viu) ou o vi (cp. ouvi); vi ela em viz de vi-a (cp.via)." (LUFT, 2006,p. 17)
Quando a escola é interpelada a respeito do baixo rendimento, alguns problemas são elencados como justificativa: a desestrutura familiar; falta de interesse pelos estudos; alunos semi-alfabetizados em séries mais avançadas; indisciplina; falta do hábito de leitura, entre outros.
Mas o que estamos fazendo em nossas salas de aula para superarmos esses problemas? Se voltarmos a pensar no tempo em que nossos alunos passam nas aulas de língua portuguesa, poderemos inferir que eles passam mais tempo sob nossa influência direta do que da própria família que já anda desestruturada e sem percepção dos valores que devem ser privilegiados nesse início de século.
Nossa sociedade não é mais patriarcal e não se acomodou ainda no novo modelo que está se criando. Vivemos uma crise de valores que perpassa os vários seguimentos sociais, inclusive a família e a escola. Assim, o modelo antigo já não é mais aceitável, pois não produz mais resultados. A escola hoje não é mais a escola dos alunos de família organizada, com características definidas, a pós-modernidade deu um novo colorido a esta entidade que é feita por seus integrantes, que carregam a insígnia da diversidade e da flexibilidade dos conceitos.
Não há como pensar a escola com os mesmos métodos e estratégias de tempos atrás. A nova estrutura social exige uma escola que assuma a existência das questões sociais como um problema a ser enfrentado de frente e não como uma justificativa para o insucesso. A nova escola deve incluir uma parcela da sociedade que sobrevive à desestruturação e por isso não está inserida.
Aliado a isso não há na nossa sociedade um hábito de leitura, nossos alunos de periferia estão alijados de vários processos de letramento constante, por esse motivo há uma dificuldade de se entender que aquelas estruturas estudadas de forma descontextualizadas devem ser inseridas por ele em um contexto.
Toda essa digressão tem a finalidade de refletir sobre o trabalho que desenvolvemos com a língua e com as linguagens na escola. O grande desafio é inserir essas comunidades que fazem parte de uma família desestruturada e vivem a margem das possibilidades que a sociedade oferece. É mais fácil fazer o percurso escola-comunidade, do que esperar que a comunidade por si só tome consciência de seus problemas e passe a autogeri-los de forma eficiente.
O professor deve ensinar a língua de forma viva, incorporada nas práticas e usos dessa linguagem, levar o estudante a perceber as relações existentes entre as regras, que são bastante lógicas, e o uso constante dessas regras em práticas textuais constantes, em gêneros diversos. Se para ter sucesso no aprendizado adquirido na escola é necessário o domínio da língua portuguesa padrão, Só haverá melhora nos rendimentos no dia em passarmos a ensinar os usos da linguagem e daí estudarmos os fenômenos a ela inerentes, atitude contrária a do ensino da gramática pela gramática
2 comentários:
Gostei deste artigo.É realmente o que tem que ser feito para que o aluno aprenda a sua língua vernácula.
Prof° Cleverton, Aracaju -SE
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