terça-feira, 18 de março de 2008

Os desafios para o ensino da língua materna

Autora: Tamar Rabelo de Castro

As práticas pedagógicas, que norteiam o ensino da língua materna no Brasil, têm se tornado alvo de questionamentos em vários níveis: do ponto de vista do aluno que acredita que nunca será capaz de aprender a Língua Portuguesa, assim com maiúscula mesmo, indicando que é algo superior e inacessível; de outro lado os professores que se angustiam com o eterno problema de escrita e uso da língua padrão; por um terceiro lado, existem os gramaticistas determinando que é necessário ensinar o uso correto dos termos gramaticais; e ainda um quarto lado, os lingüistas com suas novas teorias, abordando a língua de uma forma variável e viva.
O maior problema é que o aluno é quem mais sofre com essa torre de babel teórica, e nós, professores, devemos levar em consideração que realmente existem inúmeras variantes da língua contribuindo para aumentar a dificuldade de apropriação da norma padrão da língua portuguesa. E é nesse momento que devemos levar em conta alguns fatores sociais importantes.
A sociedade globalizada e multimidiática tem exigido de seus cidadãos novas competências para a inserção social, pois está imersa em um mundo de signos, sendo necessário ler, decodificar e interpretar informações sígnicas cada vez mais complexas. Nessa etapa da evolução social e tecnológica, novas demandas surgem, novos níveis de capacitação são necessários para a verdadeira interação social.
Na esteira dessas novas demandas, surge a necessidade de se criar novas metodologias para o ensino de língua materna, tal necessidade não é privilégio de países subdesenvolvidos, pois países como os Estados Unidos e outros da Europa, vêm questionando as metas de educação em linguagem que se deve atingir.
Se fizermos uma retrospectiva histórica, lembrar-nos-emos de um tempo em que a grande massa da população mundial era analfabeta, apenas uma pequena parte da Aristocracia, e posteriormente da Burguesia era considerada letrada, pois era detentora do universo sígnico.
No entanto, a democratização do ensino trouxe uma nova demanda social, pois se todos têm acesso ao mundo das letras, há a possibilidade de se ampliar a rede de comunicações, consequentemente explorar novos usos da língua, tornando o processo comunicativo mais dinâmico e rico. Assim, a escola precisa cumprir o papel de inserir seus alunos no universo de letramento adequado às novas necessidades sociais.
O termo letramento foi criado na língua portuguesa a partir da década de 50, como uma derivação do vocábulo “letrado”, uma vez que as pessoas que tinham formação acadêmica eram consideradas letradas, enquanto as pessoas que não estavam inseridas no universo acadêmico/científico, eram consideradas iletradas, mesmo que possuíssem algum nível de alfabetização mais elementar.
Segundo Magda Soares (2006, p 32-34), “A palavra letramento ainda não está dicionarizada, porque foi introduzida muito recentemente na língua portuguesa”, pois somente “a partir dos anos 80, começamos a precisar dessa palavra”, isso em conseqüência do fato de que as novas práticas sociais exigem uma habilidade de leitura mais ampla do que aquela que é oferecida pelo simples processo de alfabetização.
Ao ser alfabetizado, o indivíduo se torna apto à decodificar os signos, mas isso não lhe garante o uso competente da leitura e da escrita. Nesse contexto, a palavra letramento assume um sentido mais amplo, daí a necessidade da distinção entre alfabetização e letramento. Vejamos a distinção feita por Soares (2006, p. 36-37):

Essas palavras são importantes para que se compreendam as diferenças entre analfabeto, alfabetizado e letrado; o pressuposto é que quem aprende a ler e a escrever e passa a usar a leitura e a escrita, ao envolver-se em práticas de leitura e de escrita, torna-se uma pessoa diferente, adquire um outro estado, uma outra condição. Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condição social e cultural – não se trata propriamente de mudar de nível ou de classe social, cultural, mas de mudar o seu lugar social, seu modo de viver na sociedade, sua inserção na cultura – sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se diferente.

Dessa forma, há uma diferença significativa entre os vocábulos alfabetização e letramento, daí a utilização da definição encontrada na obra de Soares (2006, p. 47):

Alfabetização: ação de ensinar/aprender a ler e a escrever
Letramento: estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva* e exerce* as práticas sociais que usam a escrita.
*Cultiva = dedica-se a atividades de leitura e escrita
Exerce = responde às demandas sociais de leitura e escrita


Partindo dessa nova premissa, cabem alguns questionamentos, os quais nortearão o debate a respeito da prática de ensino da língua materna, cabendo ressaltar que não há receitas, nem fórmulas mágicas, mas uma discussão teórica que ancora um fazer pedagógico capaz de modificar a postura do falante em relação à sua língua.
· Quando se pode dizer que uma criança ou adulto estão alfabetizados? Quando se pode dizer que estão letrados?
· O que significa alfabetizar?
· O que significa letrar?
· Quais as diferenças entre alfabetizar e letrar?
· Como alfabetizar letrando?
· Quais as conseqüências de tudo isso para a escola?
· Quais são as condições para que o aprender a ler e a escrever seja algo que realmente tenha sentido, uso e função para as pessoas?
(questionamentos retiradas do Livro: Letramento de Magda Soares)

Referência:

SOARES, Magda. Letramento – um tema em três gêneros. 2ªed. Autêntica. Belo Horizonte, 2006

8 comentários:

Professora Rita discute disse...

Tamar querida,

adorei conhecer um pouco mais sobre você. O texto de apresentação do livro da Magda Soares é um bom pontapé para iniciar a discussão sobre letramento. Acho apenas que o livro está mais próximo das professoras das séries iniciais, porque há uma resistência entre os licenciados em Letras quando se fala em alfabetização.
Mas, de qualquer forma, conheça melhor sua turma para ver se é o caso de adotar esse material.
bjs
Rita

Lucilene Junqueira disse...

Amiga Tamar,

gostei muito da sua apresentação. Como já te conhecia, sei o quanto é batalhadora e está sempre buscando mais. Parabéns. Também gostei muito do texto da professora e escritora Magda Soares. Acredito que o termo letramento será o tema norteador do nosso estudo durante o curso. É importante para nós, professores de língua portuguesa, não só alfabetizar, precisamos letrar. Sucesso para todas nós.
Lucilene

Cristina Balestiè disse...

oi Tamar já tenho blog IUPIIII!!!!!
AGORA ESTOU APRENDENDO MANUSEÁ-LO TENHA FÉ E CALMA!!!O ENDERÇOé: trabalhoeacao.blogspot.com

Cristina Balestiè disse...

Queria parabennizá-las pelo trabalho que me parece será muito rico. estou amando tudo e não quero perder se quer uma aula. Beijo e muito sucesso pra nós.
Cristina Balestiè

Elisete disse...

Nossos encontros têm feito com que eu repense minha postura diante do trabalho com a Língua Portuguesa. Acredito que assim como muitos outros professores, eu também priorizava o ensino da escrita e deixava muitas vezes de lado o desenvolvimento da oralidade. Através da gravação da linguagem dos alunos, percebi que precisamos trabalhar com eles que a língua falada deve ser adequada a cada situação (coloquial ou formal).
A riqueza de nossos encontros está na troca de experiências, como a técnica da correção de redação ensinada por nossa colega Emília.
Tem sido muito bom compartilhar tudo isso com vocês. Abraços.
Elisete

Elisete disse...

Através de sua dica, pude rever o meu texto e realmente conluí que aquela fala não foi muito bem colocada. Se tiver um tempinho, releia e diga como ficou.
"O único modo de evitar os erros é adquirindo experiência; mas a única maneira de adquirir experiência é cometendo erros."
(autor desconhecido)
É nisto que consiste o trabalho em equipe. Obrigada
Beijos
Elisete

www.palavras.blogspot.com disse...

Boa noite, Tamar

Estava lendo "Preconceito linguístico" de Marcos Bagno e algumas declarações vem de encontro com o que estamos discutindo. Gostaria de destacar um trecho que critica o ensino da gramática (ensino tradicionalista) "...tantas pessoas terminam seus estudos, depois de onze anos de ensino fundamental e médio, sentindo-se incompetentes para redigir o que quer que seja. E não é à toa: se durante todos esses anos os professores tivessem chamado a atenção dos alunos para o que é realmente interessante e importante, se tivessem desenvolvido as habilidades de expressão dos alunos, em vez de entupir suas aulas com regras ilógicas e nomenclaturas incoerentes, as pessoas sentiriam muito mais confiança e prazer no momento de usar os recursos de seus idioma, que afinal é um instrumento maravlhoso e que pertence a todos!"
Tamar não sei se é este o espaço para confirmar a presença na aula do dia 08/05. Nos vemos lá.

Um beijo, Vanessa

Cristina Balestiè disse...
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