sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Raízes do Brasil - Sérgio Buarque de Holanda

A obra Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda é um texto que trata da formação cultural do povo brasileiro. Inicia-se com uma exposição da formação do povo da península ibérica, apresentando aspectos culturais que são importantes para a percepção da identidade de nosso colonizador. Segundo o autor, o povo português se difere do povo espanhol por ser este ladrilhador e aquele semeador, ou seja, enquanto um planeja o seu espaço, o outro apenas o ocupa à revelia, pois o interesse aventureiro acaba por fazer do improviso a marca mais forte da colonização portuguesa. Ao traçar o perfil do povo português em contraposição ao povo espanhol, já delimita elementos formadores de nossa cultura e nossa língua. É importante trabalhar esses aspectos como base de formação do estudante de língua portuguesa, pois a consciência de identidade é fundamental para a ação cidadã, aquela que valoriza o homem não como o indivíduo dissociado, mas como sujeito com todas as características a ele inerentes. Destarte, entender os fundamentos da educação, economia e percepções lingüísticas desde a formação do nosso país é um fato que deve ser relevante nas discussões das aulas de língua portuguesa. A obra apresenta um panorama histórico desde antes da chegada dos portugueses no Brasil e coloca em grande relevo o papel dos alentejanos na formação da identidade nacional, chega a afirmar que os desbravadores de outros países europeus, como foi o caso dos holandeses, pouca influência tiveram na formação cultural do brasileiro, essa análise nos levou a pensar a fusão cultural ocorrida no Brasil com três elementos apenas: o branco como sinônimo dos portugueses; o índio, sem levar em conta a grande variedade de tribos e culturas aqui existentes; o negro, desprezando sua cultura de base. Apesar dessa exposição, sabermos que houve mais influências que essas, ate porque, houve uma série de influências culturais de outros povos, como é caso do sul do Brasil que tem uma formação cultural mais próxima dos emigrantes de outros países da Europa. Sérgio Buarque aponta vários traços marcantes da nossa cultura e apresenta as raízes desses comportamentos: o processo de construção de nossas cidades e a demora em povoar o interior do país, como característica de um colonizador que não tinha intenção de ampliar os limites de seu país, em decorrência da concepção de que as terras descobertas eram apenas um espaço a ser explorado; a idéia de que o trabalho manual tem menor prestígio, gerando uma sociedade, na qual a elite é composta por ociosos, que exploram a mão-de-obra dos menos favorecidos, sem valorizar adequadamente os serviços prestados; a demora em instalar universidades, ao contrário dos espanhóis em suas colônias, gerou no Brasil uma intelectualidade superficial e elitista; a economia a base dos grandes latifúndios, gerou uma cultura familiar, e uma mistura entre família e estado, o que vai favorecer o que, na obra, é denominado homem cordial, o qual tende mais para a acomodação e busca encontrar sempre uma forma de concordar, mesmo que os pensamentos sejam conflitantes, esta concepção deriva da idéia de que obediência é concordância plena e indiscutível, fato que favorece o estabelecimento das ditaduras. Outro aspecto ligado à cordialidade é a intimidade excessiva e falta de formalidade, fato comprovador é o uso de palavras no diminutivo, e a queda dos pronomes pessoais “Tu” e “Vós”, amplamente substituídos pelo pronome de tratamento “Você(s)”. Outro aspecto a ser destacado na obra é a formação da língua geral. Com a interiorização dos paulistas em busca de riquezas no interior da Colônia, houve um desligamento destes dos povos litorâneos, iniciando a formação de uma língua, que é uma mistura dos falares indígenas, espanhol e português, a qual será conhecida como língua geral paulista. Com a chegada de D. João com toda a sua corte, a percepção de que um novo idioma estava se formando, tornou-se mais forte. Daí, a necessidade de “unificação” da língua portuguesa a partir da imposição, fato que gerou inúmeros genocídios Brasil afora e criou a lenda de uma língua estática. Há um viés crítico na obra que apresenta vários problemas na formação da personalidade do brasileiro, assim como na identidade nacional, que, segundo o autor, foi forjada a partir da concepção da cordialidade e da improvisação, a partir do espírito aventureiro em contraposição ao espírito trabalhador. Fato esse que nutre, ainda hoje, condutas de favoritismo e pessoalidade nas relações de poder. De acordo com Sergio Buarque, somente haverá libertação e uma nova identidade nacional quando houver uma revolução de costumes e de concepções.

5 comentários:

Elisete disse...

Seu texto sobre a obra de Sérgio Buarque de Holanda nos deixa claro como a influência portuguesa interferiu na forma como nossa língua se tornou viva e predestinada a mudar. Agora entendo como se formou a identidade de um povo tão mesclado.
Gostaria que visitasse meu blog e lesse o texto do nosso último encontro. Poderia colocá-lo no diário de bordo que está comigo?
Beijos. Elisete.

Anônimo disse...

Ester

Muito legal. Esclarecedor.

Elisete disse...

Dei uma passadinha por aqui para te desejar já com atraso de um dia: Feliz dia do Professor. Um dia somente nos é pouco, afinal sem querer ser pretensiosa, mas todos os dias já são nossos dias. Dias de luta por uma educação de qualidade, de busca por novos conhecimentos, dias de deixar um pouquinho de cada um de nós no coração dos alunos. Beijos. Você fez a diferença em minha vida.

linguagem e poder disse...

Sua resenha ficou excelente.

Elisete disse...

Fico feliz que tenha gostado do blog. Como agora estaremos de férias também darei uma paradinha, mas pode deixar que vou escrever mais vezes, pois a arte de escrever só se aprende mesmo treinando...Beijos, boas festas para você.